Os três últimos dias de Fernando Pessoa. Um delírio.

SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL DIAS 27, 28, 29 E 30 DE NOVEMBRO DE 2013, 21h00

(a partir da obra homónima de Antonio Tabucchi)

Copyright: Rita Carmo

© Rita Carmo

FICHA ARTÍSTICA

Autor – António Tabucchi
Tradução – Maria da Piedade Ferreira
Encenação, Adaptação e Dramaturgia – André Gago
Cenografia – Isabel Worm
Desenho de Luz –  Nuno Meira
Figurinos – José António Tenente
Música – Tiago Inuit
Fotografia – Rita Carmo
Assistente de Produção – Cláudia do Vale
Actores – Alberto Magassella;Carlos António; Carlos Marques; Eurico Lopes; José Neves; Maria João Falcão; Vitor D’Andrade
Co-Produção Margarida Mendes Silva e São Luiz Teatro Municipal

A acção decorre em Novembro de 1935, e descreve a crise hepática e o internamento hospitalar de Fernando Pessoa no Hospital de S. Luiz dos Franceses, onde morrerá às vinte horas e trinta minutos do dia 30. O autor, Antonio Tabucchi, constrói uma rêverie — um delírio, como lhe chama —, sobre o que poderá ter passado pela cabeça de Fernando Pessoa nesses três últimos dias de vida. Embora a primeira parte da narrativa procure descrever de forma mais ou menos verosímil a forma como Pessoa terá deixado a sua casa, na companhia de amigos e com a presença acidental do seu barbeiro ou da porteira do prédio onde habita, já no trajecto de automóvel a evocação de Ophélia Queiroz ou a memória da sua antiga hospedeira, Dona Maria das Virtudes, e das suas sessões espíritas, introduzem um primeiro instante de afastamento ou sobreposição entre realidade e tempo mental. Um polícia sinaleiro assume, inesperadamente, a persona de um heterónimo menos conhecido — Coelho Pacheco —, e a sensação de uma deriva mental, serena e desejada, mas a que de forma simplificada os médicos tenderiam a aludir habitualmente como estado de confusão, parece começar a apoderar-se da personagem Fernando Pessoa e da narrativa. No hospital, Pessoa receberá, sucessivamente, a visita de Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares e António Mora, seus heterónimos, todos, de quem, de certa forma, se despede.

Nota de Encenação

O texto de Antonio Tabucchi é descrito pelo autor como um delírio — uma rêverie —, sobre o que se terá passado na cabeça de Fernando Pessoa nos seus últimos três dias de vida, no Hospital de S. Luís dos Franceses. O texto organiza-se em torno de sucessivos diálogos de Pessoa com alguns dos seus heterónimos — Alberto Caeiro,Ricardo Reis, Bernardo Soares, Álvaro de Campos, Coelho Pacheco e António Mora —, e com personalidades que cruzaram a vida do poeta: a porteira, o barbeiro, Francisco Gouveia, Armando Teixeira Rebelo, o patrão Moitinho de Almeida, Ophélia Queiroz, a avó Dionísia, o médico e a enfermeira Catarina. O modo como estes encontros se articulam e se dão ao leitor é já, na sua essência, de estrutura dramática: a cada encontro corresponde, por assim dizer, uma cena, e cada cena sustenta-se quase exclusivamente no diálogo. Daqui se conclui que o livro apresenta já, na sua construção discursiva, o material dramatúrgico necessário à sua transformação em acção teatral, sendo a intervenção necessária a este nível relativamente reduzida, mais organizacional que propriamente recriadora do texto. Trata-se, pois, de organizar os diálogos numa estrutura narrativa funcional do ponto de vista do teatro, e escolher o modo interpretativo e plástico de trabalhar este texto, por forma a poder partilhar com o espectador uma visão do livro. Para explorar o efeito de desdobramento de personalidade criado pela existência dos heterónimos — que, a despeito da sua biografia própria, são sempre uma extensão da personalidade de Pessoa —, pretende-se encontrar um denominador comum a todas as personagens, ou seja, uma espécie de personagem-base de Pessoa, assinalada por comportamentos corporais e sublinhada pelo figurino, personagem-base sobre a qual se possa desenhar uma máscara para cada uma das suas variações. Um exemplo prático da utilidade deste expediente é a hipótese — em aberto, portanto —,de os vários intérpretes se revezarem na personificação de Pessoa ele-mesmo, ora em trânsito para o hospital, ora deitado no leito de onde vê surgirem-lhe, como visões convocadas para o adeus, os vários interlocutores com os quais terá as derradeiras e imaginadas conversas. O desdobramento desta persona nas máscaras das demais personagens não-heteronímicas — amigos, porteira, médico, enfermeira —, acentuará, acredita-se, o carácter onírico desta rêverie, reforçando-lhe a sugestão de cosa mentale, esforço artístico de construção de uma ficção derradeira, manipulada voluntária ou involuntariamente pela imaginação do poeta. Pretende-se que o espaço cénico acentue esta ideia de rêverie enquanto equivalente cénico de um dispositivo mental próprio de um estado que oscila entre a consciência e a confusão, criando um ambiente condizente com a sensação de elisão de espaço e tempo que experimenta o doente internado e acamado: a luz e as sombras, a intermitência entre ambas, a calma e a agressividade de uma atmosfera coada a brancos, azuis e cinzentos. A presença da cama hospitalar de ferro, como nota de época, e demais mobiliário, a iluminação com laivos de dispositivo científico ignoto e quase místico, a cortina separadora enquanto dispositivo de ocultação/revelação e, finalmente, o espaço delimitado pelos mecanismos esotéricos que Pessoa não dispensava na organização da sua vida prática e, quem sabe?, também da sua morte.

ANDRÉ GAGO

ANTONIO TABUCCHI (Pisa, 1943)

É considerado um dos maiores escritores contemporâneos. Autor de vinte e cinco livros de narrativa traduzidos no mundo inteiro, é autor também de dois ensaios fundamentais sobre Fernando Pessoa (Un baule pieno di gente, Milão 1990 e La Nostalgie, l’Automobile et l’Infini, Paris 1998) cuja obra, a partir dos anos 70, traduziu para italiano com Maria José de Lancastre.

Considera Portugal a sua segunda pátria e um dos seus romances mais conhecidos internacionalmente (Requiem,1991) foi escrito em Português.

Alguns dos seus livros foram adaptados ao cinema por realizadores como Fernando Lopes (O Fio do Horizonte), Alain Corneau (Nocturno Indiano), Roberto Faenza (Afirma Pereira), e Alain Tanner (Requiem).

Recebeu numerosos prémios internacionais. Nos últimos anos, o seu nome circula como um dos possíveis candidatos ao prémio Nobel. Morre em Lisboa, a 25 de Março de 2012.

Eventos Paralelos

Uma Lisboa de Pessoa

30 de Novembro, 15h00

“Um passeio por Lisboa guiado pela vida e a poesia de Pessoa. Dos cafés onde, ao fim da tarde se reunia com amigos ou que,  tão só, usava como sala de trabalho, às ruas por onde passava, as múltiplas casas onde viveu e trabalhou, mas em especial, um deambular pelas histórias de uma vida  em desassossego.”

Itinerário: Cais das Colunas, Martinho da Arcada, ruas da Baixa, rua dos Sapateiros, Rossio,Largo  da Estação do Rossio,  Escadinhas do Duque, Largo do Carmo, Rua Garrett, Brasileira, largo de S. Carlos.

Visita guiada por Gabriela Carvalho

Local de encontro: Cais das Colunas,15h00

Duração aproximada: 2h30/3h00

Número máximo de participantes: 30 pax

Recomendações: água e sapatos confortáveis

Inscrições até 28 de Novembro para: nunosantos@egeac.pt

Fotografias

Ensaios

Espectáculo

Apoios

  • Jones Lang LaSalle
  • Hotel Borges
  • Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
  • Hospital Júlio de Matos
  • Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
  • Jardim Botânico de Lisboa
  • Hotel Avenida Palace
  • ópticabelavista
  • Barbearia Campos
  • Alma Azul
  • José António Tenente
  • Samuel Rocher
  • Cultura e Risco Associação Cultural

 

Agradecimentos

  • Ana Ribeiro
  • Ana Paula Gaudêncio
  • Carlos Ribeiro da Silva
  • Ema Almeida
  • Ercília Bilro
  • Gabriela Carvalho
  • José Carlos Silva
  • Maria da Piedade Ferreira

Um obrigada muito especial a Maria José de Lancastre